Tema: caridade, reforma íntima
Há muitos e muitos anos, havia um príncipe que habitava o Palácio de Cristal.
Orgulhoso e Vaidoso, vivia irritado, aborrecido, a distribuir ordens cruéis, levando sofrimento para os súditos. Todos os seus desejos, todas as suas fantasias tinham que ser realizadas, por mais difíceis que fossem.
Sua mãe, a rainha Vitória, preocupada e aflita com isto, resolveu procurar os conselhos do Sábio da corte. Não entendia por que seu filho se tornara tão mau e egoísta.
O sávio lhe pediu paciência, dizendo que o Céu enviaria a solução.
O tempo passou, passou, até que um dia chegou ao reino um menino muito especial, com uma qualidade incrível : tinha os olhos como se fossem duas luzes que brilhavam intensamente.
Logo que o Príncipe soube da novidade, ficou enfurecido e disse ao Sábio do reino : Quero, também ter os olhos de luz !
O sábio respondeu :
_ É impossível ! Nada há que possa transferir a luz dos olhos daquele menino para a Vossa Alteza, poi essa luz o menino a conquistou numa longa caminhada.
O príncipe ordenou que lhe trouxessem o garoto ; queria conversar come le.
O menino veio e, muito humilde, explicou que, se pudesse transferiria, sim, a luz dos seus olhos para ele, mas que isto era impossível e que só havia uma maneira de adquiri-la.
O príncipe, então, vaidoso como era, resolveu que faria tudo para ter também aquela luz em seus olhos.
O menino o instruiu para a longa jornada em busca da luz.
O Príncipe, fascinado pelos olhos do menino, só pensava neles. Sim, certamente, quando conquistasse aquele brilho, seria ele, então, o principe mais formoso do mundo.
Mandou que seus servos arreassem o cavalo mais forte, mais rápido e mais bonito da estrebaria real e, cavalgando-o, partiu em busca do precioso dom.
Em cada ângulo do caminho, apesar do orgulho que lhe trazia revolta ao coração, procurou atender aos enfermos, às crianças, aos ignorantes e aos desesperados que foi encontrando reino afora, movido pelo desejo de conseguir a luz.
Seguia as instruções do menino dos olhos brilhantes ; a princípio, com dificulade, depois, pouco a pouco, foi sentindo que intense paz e felicidade lhe invadiam a alma, a cada boa ação que praticava.
Assim, tentando superar os velhos hábitos, já com paciência e coragem, transmitia bom ânimo a todos. O príncipe foi trabalhando, renovando-se e, se esqueceu de si mesmo, esqueceu-se até da obsessão pela luz. Dominou o orgulho e o egoísmo que antes lhe eram naturais.
Quando chegou ao término da jornada, cansado e ferido pelas agruras e pelas pedras do caminho, era noite alta. E ele se encontrava num lugar muito escuro.
Mas, coisa estranha !
Alguma luz, a princípio trêmula e fraca, depois, cada vez mais forte, iluminava a estrada.
Somente então, percebeu que era a luz dos seus olhos.
Chorou de emoção, pois havia com muita luta, conquistado o que tanto desejara. Agora seus olhos brilhavam, como os do menino e ele se sentia transformado, pela experiência que a jornada lhe havia trazido.
Sentia-se mais humano, mais humilde, e mais caridoso, mais feliz.
De volta ao Palácio de Cristal, sua mãe foi recebê-lo com muita felicidade.
Agora seu filho era outra pessoa. Amigo de todos.
Fez então, uma grande festa e todo o reino se alegrou.
Daquele dia em diante, a luz dos olhos do príncipe nunca mais deixou de iluminar até os mais escuros cantos do país, em forma de amparo e proteção aos fracos, aos desesperados e aos desvalidos.
E todos foram felizes para sempre.
Mas, e o menino dos olhos de luz ?
Ah, ele voltou para o seu reino.
Texto : Ana Maria Couto de Sousa, Livro : « Histórias da Tia Nete »